Talhada em madeira, as letras lá entalhadas: 'Empório das Corujas' e circundadas por uma fina armação de ferro estanhado, eram sucedidas de uma pequena sineta, ao canto da porta rústica. Ao abrir a porta e ouvir-se o toque do sininho, uma seqüência de fulgores invadia o olhar dos visitantes, fulgores dos olhares daquelas que eram a especialidade da loja; as dezenas e dezenas de brilhos, que pareciam minúsculas jóias levitadas, na verdade eram reproduções mimetizadas dos olhos das corujas douradas, das torres, do campo, marrons e brancas, ali dispersas. Os animais estavam distribuídos em gaiolas – ornamentadas por finas folhas de materiais diversos – dispostas acima das cabeças dos visitantes, ou menos claustrofóbicas – na forma de mágicas correntes que por auréolas douradas confortáveis prendiam-se ao corpo do animal, deixando-os livres para voar –, distribuídas ao longo de todas as paredes do local. O recinto exalava um odor que se mesclava entre mofo e titica de coruja, além de alguns outros irreconhecíveis; os ruídos que reverberavam no local se somavam às centenas de penas que sujavam o local escuro e abafado, terminando de armar o palco do completo caos. Atrás de tudo isso, encontrava-se um balcão gasto e característico; como na loja, algumas penas se encontravam soltas sobre ele.