Dizem que todos os caminhos chegam à Roma, no entanto poderia-se afirmar que o autor desta frase se inspirou na cidade de Oxford. Aqui, na cidade inglesa, todos os caminhos caem na Main Street, uma movimentadíssima avenida de quatro pistas e largas calçadas. Se não tivera inspiração, ao menos imaginou que, de tão longa, a avenida principal alcançaria a Itália. Com pavimento feito da melhor tecnologia de cimento asfáltico, não se pode ver nenhum tipo de patologia nesse tapete de piche. Além do revestimento impecável, as calçadas são constituídas de pedras devidamente cortadas e encaixadas, de modo a não precisar de argamassa colante. As construções que se endereçam nesta rua são, além de bem valorizados, das mais diversas modalidades de comércio e negócio: há desde restaurantes e bares, até escolas de música, arte e museus. O caminho que ela descreve no mapa da cidade é como uma costura numa colcha de farrapos: liga todas as principais localidades da cidade. Seus extremos são a Rock Village e a Catedral local. Historiadores dizem que este foi o primeiro trajeto oficial feito para levar os pecadores da distante vila ao centro de Oxford, para então se redimirem naquela exuberante igreja. Nela também se encontra, já no centro da cidade, a entrada para a estação principal do metrô de Oxfordshire. Se estiver algum dia perdido, procure a Main Street: nela você há de se encontrar.
Gabriel Catena Autoridades Máximas
Mensagens : 40 Data de inscrição : 04/09/2013 Idade : 52
Assunto: Re: Main Street Qui Set 19, 2013 9:29 pm
Mesmo com a alcunha de ministro, Gabriel sempre gostou de manter alguns hábitos trouxas que julgara divertido. Em sua época de estudante, ganhou de sua mãe uma Harley Davidson e cultiva o costume de dirigir por horas e horas sem destino certo. Incrível o poder que o ronco deste motor tem em mim, pensou, enquanto dirigia calmamente pelas ruas da Main Street de Oxford, conhecida por ter um dos melhores asfaltos do mundo.
Enquanto contornava ruas aleatórias, deixou seu pensamento divagar acerca dos acontecimentos dos últimos dias. Sabia das atividades que vinham ocorrendo. O ministério, ao contrário do que se pensa, possuía um poderoso sistema de monitoramento das atividades mágicas e conseguia rastrear, com muita eficácia, quem ele quisesse; desde que estivesse no banco de dados. Uma vez no banco de dados, este só saía por decreto ministerial, coisa que não fora feita, até hoje. Alguns registros nunca devem ser apagados. Pensou, antes de acelerar em uma grande reta.
Deko Càminn Aurores
Mensagens : 23 Data de inscrição : 06/09/2013 Idade : 52 Localização : Desconhecida
Assunto: Re: Main Street Dom Set 22, 2013 11:43 am
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ㅤㅤ ㅤSeu corpo surgiu de um remoinho em um dos becos solitários da Main Street. Deko havia, na noite passada, estado em Dark City numa aventura que, agora, se arrependia. Era mais que certo que deixara pistas de uma visita, apesar de que, julgava o auror, não fossem nem um pouco suficientes para revelar sua identidade. Poderia ser qualquer um a andar pela cidade maldita naquele horário, qualquer bruxo. Ainda mais que ele estava sumido há anos e jamais alguém poderia supor ser o francês. ㅤㅤ ㅤA manhã em Oxford estava nebulosa: uma massa de ar frio, juntamente com uma umidade relativa em altos índices, davam as boas-vindas para qualquer um que ousasse sair dos edifícios. Seu sobretudo negro em couro parecia não ser suficiente para conter o vento cortante e, apesar de ainda não ser inverno, aquilo obrigava qualquer um a tirar um casaco mais grosso do armário. ㅤㅤ ㅤSaiu do beco e, andando pela calçada, pôs-se a pensar novamente no dia anterior. Desviava dos poucos transeuntes e, com as mãos nos bolsos, caminhava pensativo, até que o vento tocou uma folha de jornal e a mesma enroscara-se no seu pé. Deteve-se e, agachando-se, apanhou o pedaço de papel. Aparentemente era um jornal trouxa, no entanto Deko sabia que o antigo redator do Daily Info — e atual proprietário — era um bruxo e, desta forma, encantava todos os seus exemplares para informar tanto o mundo trouxa, quanto o bruxo. Sacou a varinha de modo disfarçado e, sibilando, tocou com a ponta no papel acinzentado: — Finite Incantatem! — E no mesmo instante a magia fora quebrada e um noticiário bruxo se revelou. Não se tratava do jornal inteiro, mas Deko pouco se importava: qualquer coisa que pudesse ler para espairecer a cabeça já lhe era suficiente. — Pelo menos aqui não tem nada sobre ontem... É um classificado. — Riu, olhando diversas ofertas de emprego, de venda de objetos mágicos e procura de serviços. Dentre os inúmeros anunciados, um deles lhe chamou a atenção. — “Sheen precisa de ajuda! Ela recebeu uma remessa grande da rede de hotéis mágicos ‘Sonho de Merlim’ e precisa confeccionar um total de mil cálices de prata” — sibilou para si mesmo, lendo o anúncio em destaque. — Hum... algo fácil, porém um pouco entediante. Paga-se bem e, ademais, ganha-se um anel em prata.— Olhou para sua varinha e, rindo, já esquecido de sua preocupação a despeito dos acontecimentos da noite passada, brincou: — É minha amiga, serão uma milha de Vera Verto! — Dobrou o jornal e enfiou em seu bolso juntamente com a varinha. Respirou fundo e continuou caminhando. ㅤㅤ ㅤSeguia em direção à Rock Village, seu lar há tantos anos. Fazer aquele serviço pelo menos lhe iria ocupar a cabeça e reduzir o tédio que sentia em seu exílio. A Main Street ia ficando mais vazia à medida que se distanciava do centro de Oxford e, seguindo seu exemplo, o coração do auror ia apertando-se no interior de seu tronco, já esperando — e sentindo — os ares da monotonia.
Gabriel Catena Autoridades Máximas
Mensagens : 40 Data de inscrição : 04/09/2013 Idade : 52
Assunto: Re: Main Street Dom Set 22, 2013 2:27 pm
Anos atrás, trabalhou com seu tio e desenvolveu um sistema de rastreamento mágico, que usava a assinatura única que cada varinha emitia para dar a localização da mesma. O projeto tomou como base o sistema de rastreamento ministerial. Este, no entanto, funcionava apenas para magia negra. Nunca colocou o mesmo para operar, pois seria ilegal e tiraria a privacidade dos bruxos. Contudo, sendo ele uma das maiores autoridades bruxas do mundo, ministro, não haveria problema no projeto funcionar. E funcionava.
Recentemente, em um passeio de moto que fizera por Oxford, espalhara diversos rastreadores, pois precisava encontrar um certo bruxo daquele local. Sabia que ele não estava morto. Não possuía nenhum indício disto, simplesmente porque recusava-se em acreditar que ele morreria, senão por velhice.
Sabia que, cedo ou tarde, ele passaria por ali. Ele era daquele local, sempre tratou como seu lar e, mesmo fugindo de tudo e todos, Gabriel sabia que Deko retornaria para Oxford. E retornou, cometendo o deslize de ser bruxo justamente próximo ao local onde espalhara um de seus rastreadores.
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Sentado calmamente e bebendo um café em seu escritório no ministério, Gabriel recebeu o alerta que há algum tempo estava esperando. Um dos rastreadores de magia que instalara em Oxford apitou, reconhecendo o uso da feitiçaria feita por aquela varinha. Sorriu, deu mais um gole no café e enviou a mensagem mágica, conseguida graças ao seu elevadíssimo grau de legilimência.
"Olá André, Deko, Càminn. Não fique assustado, você sabe quem eu sou. Não estou atrás de você, não precisa temer. Seu registro como auror ainda consta como ativo, e recusei-me em acreditar em seu óbito. Muitas coisas mudaram, você não faz ideia. Venha ao ministério e me procure. Entre pela porta da frente. Diga que você é o convidado do Ministro da Magia e nada acontecerá. Precisamos conversar."
A pequena esfera de luz piscou e desapareceu, deixando uma névoa azulada onde antes fazia-se presente. Contudo, na mesma névoa, formara-se uma frase por poucos segundos:
Deko Càminn Aurores
Mensagens : 23 Data de inscrição : 06/09/2013 Idade : 52 Localização : Desconhecida
Assunto: Re: Main Street Dom Set 22, 2013 5:18 pm
“Inferno est de retour”
ㅤㅤ ㅤA pupila dilatada do francês assemelhava-se a um buraco negro, consumindo toda a informação que lhe era dada em um só instante. Fora como um soco na boca do estômago. Deko recebera a informação num susto, enquanto caminhava, já distante do centro de Oxford, rumo à Rock Village. Ao perceber o orbe, por instinto procurou a varinha. Antes mesmo de tocá-la em seu bolso, percebeu que não havia ninguém ali, não havia como lutar: era algo dentro da sua mente. O máximo que conseguiria seria explodir a própria cabeça. Deteve-se, então, permanecendo extasiado após a informação ser plantada em sua mente em menos de uma batida de seu coração. Permaneceu imóvel durante alguns instantes, tentando raciocinar. Nenhuma habilidade de oclumência premeditada seria capaz de resistir àquele efeito: aquilo era onisciência. — Catena... — exclamou, impressionado com aquele tipo de magia. Nunca havia tido tal experiência e, ainda por cima, não imaginava que o poder do novo ministro lhe alcançasse ali, centenas de quilômetros de distância. ㅤㅤ ㅤPois bem, duas coisas lhe surgiram na cabeça logo que voltou a raciocinar novamente. A primeira era a possibilidade de terem descoberto sua visita à Dark City. — Mas como é possível? — murmurou, olhando a sua volta certificando de que ninguém estava lhe vigiando. A segunda era a respeito de seu registro no ministério: Gabriel teria acabado de notar seu registro, ou já o tinha tomado conhecimento antes? Estaria ele planejando algo? — Não, o Catena é bom... Déia ensinou-lhe assim. — concluiu então. ㅤㅤ ㅤE então Deko decidiu não mais se esconder. Seu coração lhe dizia para procurar o novo ministro e, desta vez, esperava que pudesse largar seu exílio, com o auxílio de Gabriel. Girou sobre seus calcanhares e rumou novamente para Oxford. O ritmo acelerado de seus passos seguia de perto o do seu coração. A ansiedade lhe fez transformar os passos numa corrida, não contra o tempo, mas sim versus a curiosidade. Queria saber o que seria o “precisamos conversar” recebido. Fosse a respeito de suas caminhadas, ou não, o francês agora queria o saber. ㅤㅤ ㅤAinda na Main Street alcançou a estação principal do metrô, chamando a atenção das pessoas pelas quais passava: para os trouxas, alguém que estava realmente atrasado e precisava entrar num vagão em direção a algum lugar. No entanto não era aquele o destino — nem a forma ideal — de se chegar ao Ministério. Iria pelos trilhos abandonados... chegaria muito mais cedo ao encontro do onisciente, que provavelmente já lhe esperava.